
NUNO VASCO RODRIGUES
Muitas pessoas possuem uma paixão pelo mar, algo que os faz adorar ir à praia e sentir a brisa, que por si só faz alterar o seu ânimo. Para outros, o mar é um objetivo, uma carreira a seguir nas diversas áreas que o englobam.
Que expectativas tinha quando iniciou a sua jornada, e a biologia marinha sempre foi um foco para entrar no vasto Oceano?
NR: A atracção pelo mar e seus habitantes foi algo que existiu desde que me lembro. Desde criança que sentia um fascínio enorme pelos animais marinhos e, ainda muito pequeno, lembro-me de passar a explorar as poças de maré no Algarve. A formação em biologia marinha rapidamente foi um dos primeiros grandes objectivos de vida pois sabia que me iria permitir saber mais acerca do mundo marinho e dar-me-ia oportunidades para o continuar a explorar de uma forma cada vez mais séria.
A fotografia esteve sempre presente na sua vida, ou apareceu apenas mais tarde?
NR: O meu avô paterno era fotógrafo e os seus filhos (o meu pai e o meu tio) tinham gosto pela fotografia, apesar de ambos o fazerem apenas como hobby. Nesse sentido, diria que a fotografia sempre esteve presente na minha vida, apesar de eu não ser um aficionado pela fotografia desde cedo.
Lembro-me de os meus pais me oferecerem uma câmara que eu perdi ao fim de 2 semanas. Fiquei desolado. Mais tarde, surgiram as câmaras fotográficas descartáveis, sendo que havia umas com caixa estanque. Indo de férias para Porto Santo, teria talvez uns 13-14 anos pedi à minha mãe que me comprasse uma dessas câmaras. Vinham com um rolo de 36 fotografias e foi com uma dessas câmaras que fiz as minhas primeiras fotografias subaquáticas.
Como define o papel desta ferramenta que é a fotografia, e o que lhe permite alcançar?
NR: Quando pedi a tal câmara descartável à minha mãe, lembro-me que o que tinha em mente era poder partilhar com ela e com o resto da família o que observava debaixo de água, na esperança de conseguir “justificar” o meu fascínio. Hoje em dia não é diferente. Vejo a fotografia como uma ferramenta que me permite captar espécies fascinantes, “congelar” comportamentos curiosos e eternizar momentos únicos, que depois posso partilhar com os outros e continuar a “justificar” o meu fascínio. Mas fui percebendo que as minhas fotografias podem ter um alcance menos “egoísta”, servindo não apenas para me “justificar”. Elas podem ter um alcance que me ultrapassa e que serve um propósito muito mais nobre e abrangente: através da fotografia – particularmente a subaquática - tento mostrar aos restantes a beleza do mundo marinho, que para muitos é ainda desconhecido, mas também alertar para a sua fragilidade e mostrar as muitas ameaças que enfrenta hoje em dia. E sempre que possível, mostrar iniciativas que trabalham para mitigar estas ameaças, transmitindo que ainda há esperança e que somos muitos a lutar para que o futuro seja mais risonho.
Continua a ser investigador no IP de Leiria. Quais são as áreas de investigação que lhe mais interessa e porquê?
NR: Sim, continuo ligado ao IPLeiria. Fascina-me sobretudo o comportamento e ecologia funcional de animais marinhos, nomeadamente os peixes. O modo como se vão adaptando às mudanças.
Fascina-me tudo o que gire em volta de iniciativas de conservação de espécies ou ecossistemas.
Já conseguiu conjugar a fotografia com a investigação?
NR: Sim. E faço-o sempre que possível. Já publiquei alguns trabalhos em que a fotografia teve um papel fundamental. Por exemplo, no registo de comportamentos de alguns peixes (peixes limpadores em São Tomé e Príncipe, agregações de ratões-águia no Faial, bodiões limpadores de Peixe-lua no Mediterrâneo) ou no registo de espécies em regiões onde não estavam anteriormente reportadas (novas espécies nas Berlengas). Acredito que a fotografia (e o vídeo) é um suporte muito importante na ciência e permite mostrar o que nem sempre é fácil de explicar por escrito. “Uma imagem vale mais que mil palavras”, certo?
Que emoções e pensamentos lhe surgiram quando vários trabalhos seus foram premiados?
NR: O sentimento é sempre de grande felicidade, de sentir que vale a pena todo o esforço e dedicação. É um reconhecimento que é dado habitualmente por pessoas (os júris) que são uma referência nessa área. E isso torna o prémio especial. Essa felicidade é geralmente efémera (pelo menos comigo). No instante seguinte estou a pensar num novo projecto e em como posso continuar a evoluir e a passar a mensagem que quero. E se com isso vierem prémios, tanto melhor.


Aconselha que possuir experiência e licença de mergulho é algo fundamental para quem quer explorar e estudar os ecossistemas marinhos?
NR: Não, de todo. Tenho imensos colegas que são grandes cientistas e estudiosos marinhos e que não mergulham. Muitos dos recursos que dispomos hoje em dia para explorar o oceano não obrigam a mergulhar. No meu caso, porém, dificilmente vejo a minha vida sem o mergulho. A exploração in-situ e a proximidade que o mergulho me permite de seres absolutamente fascinantes, muitas vezes em exclusividade, é algo que considero único, mas também fundamental para o meu trabalho.
Pelo que já viveu, estudou e fotografou, algum momento mais marcante que gostasse de partilhar?
NR: Tenho vários momentos marcantes. Mas destaco um em particular, em estive com um cachalote, nos Açores. Lembro-me de ler Moby Dick em criança e desde esse momento que os cachalotes ganharam uma aura de mistério e fascínio na minha mente. Ter a oportunidade de partilhar a água com um animal desses foi uma experiência inolvidável. Lembro-me de ver uma sombra enorme em direcção a mim e senti o coração a parar. Os momentos a seguir, infelizmente, ficaram bloqueados devido à emoção e não tenho recordação (risos). Quando “voltei a mim” ainda tive tempo de disparar a câmara um par de vezes antes de o ver desaparecer no azul. Foi incrível.
Agora para os estudantes, a próxima geração de cientistas, que conselhos lhes dirige para conseguirem atingir os seus objetivos ao longo da sua carreira?
NR: Diria para procurarem fazer algo que os apaixone. Seja na biologia marinha, fotografia, ou qualquer outra área. E que se dediquem a isso de alma e coração. Se gostarem mesmo, a probabilidade de terem sucesso é grande. Sejam sempre honestos e preservem as relações que vão fazendo ao longo da vida, pessoal ou profissional. Sejam audazes e arrisquem. Há poucas coisas mais frustrante do que trabalhar em algo com o qual não nos identificamos.
E por fim, quais são os seus planos futuros?
NR: Os planos futuros passam por continuar a explorar os oceanos e a captar imagens que me permitam contar histórias ao mundo e passar mensagens que considero importantes. Se conseguir alcançar uma pessoa que seja, e contagiá-la com a minha paixão e/ou preocupações, sinto que já valeu a pena.


